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Crítica: Sherlock - The Abominable Bride


Em uma sacada que deveria ser reincidente, a BBC massageia o dolorido coração do fandom de Sherlock Holmes com um especial de natal para zerar (ou recomeçar) a contagem regressiva até a nova temporada, prometida para 2017. Porém aqueles que esperavam apenas um filler descompromissado, podem se surpreender. 

Passando-se na mesma época que a série literária, a adaptação da vez é o caso da Abominable Bride (Noiva Abominável, em tradução livre) onde mais uma vez, Sherlock confronta um caso potencialmente sobrenatural, desmascarando uma farsa que encobria um assassinato verdadeiro. 

O primeiro desafio - e proposta - do episódio seria levar o detetive a sua época de origem. Ora, que Steven Moffat e Martin Gatiss tenham conseguido com destreza trazer o universo de Sherlock Holmes para o mundo moderno é um fato notório que assusta o público ao primeiro contato com o seriado da BBC: As publicações do John em jornais viram um blog, os recados do detetive, enviados através de um garoto, viram sms. É simples, é interessante e diáloga com a realidade dos telespectadores. Porém, as mitológicas características do investigador mais famoso do mundo são deixadas de lado pelos roteiristas da BBC, em prol da mesma licença poética que pregam, logo a resposta para uma dúvida tão grande quantos os hiatos da série, foi prometida, na propria divulgacão do especial, para esse episodio: como se sairiam Gatiss e Moffat ao tentar uma certa aproximação com os livros de Arthur Conan Doyle? 

Em uma palavra: Incríveis. Não só as adaptações, ou diria eu, readaptações funcionam bem como são, ao seu modo, fieis ao personagem, reafirmando apenas o quão genial é a trama criada pelos roteiristas britanicos; As peculiaridades que endeusam o personagem literário, na telinha o humanizam. O detetive comprometido dos livros sempre fumando um cachimbo é, na série, um viciado. E essa é uma marca que o seriado carrega categoricamente bem: O Holmes de Arthur Conan Doyle é um e o de Moffat e Gatiss é outro. As diversas caracteristicas deixadas para trás - como o uso da frase "Elementar, meu caro Watson" - caem na série como uma piada interna entre os que a fazem e os que a assistem. É por essa ousadia, que ao saber aproveitar as licenças poéticas entre série e livro, as diferenças não pesam para os fãs como um insulto, caem apenas como as justas adaptações que são. 
O "piscou, perdeu" que já é marca registrada dos roteiros da série é aqui bem presente, mesmo que o episódio não chegue a ser dos mais corridos. A fluidez do roteiro é absurda, mérito do ligamento entre tramas e subtramas que é tão incrível e envolvente, que resolvem-se e se renovam, dando cada vez mais gosto ao episódio. 

No final, os animos que deviam se acalmar, renovam o seu fervor. Podendo ser tanto uma season premiere da quarta temporada quanto um mero vestígio de season finale do terceiro ano, The abominable bride é realmente especial, em todos os bons sentidos da palavra. Renovando as energias para a 4 temporada de Sherlock a passo que não deixa cair o ritmo da série, o especial de natal é descompromissado pelas consequências dos seus episódios anteriores, ainda que "assombrado" por elas, sabendo carregar muito bem a responsabilidade de "elo de ligação" entre uma temporada e outra, servindo a dois mestres: diversão descompromissada de apenas mais um caso e ao Cliffhanger deixado pela season finale da terceira temporada.


Nota:


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