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3% - Crítica




Saudações escapistas do meu Brasil!
A ideia de um seriado nacional produzido pela Netflix encantou seriadores brasileiros desde o anúncio de que 3%, webserie de 2011, seria regravada e lançada pelo serviço de streaming. O teste de mercado da Netflix, vindo em tempos de séries como Justiça e SuperMax, cria uma competição no mercado audiovisual brasileiro que beneficia não só quem produz, como é maravilhoso para quem assiste. Então, seria 3% o início da era das séries brasileiras?


Sinopse: Num futuro distópico, parte do mundo está devastada. A outra parcela, por sua vez, está em plena evolução. As pessoas que vivem em péssimas circunstâncias têm uma única chance de viverem melhor no lado evoluído por meio de uma avaliação violenta e impiedosa, conhecida como Processo. Joevens se preparam a vida inteira para a avaliação, na qual, apenas 3% dos candidatos serão aprovados.

Ao primeiro contato, o que mais chama atenção em 3% são as críticas consistentes que o roteiro faz à sociedade. A série pega pesado com temas bastante atuais da política brasileira, como as falhas do capitalismo, da meritocracia e dos valores individualistas. De vestibulares a concursos públicos, tudo o que separa a sociedade entre bem sucedidos e mal sucedidos é alvo da crítica do roteiro. Nesse aspecto, é possível enxergar em 3% a originalidade que fez o cinema brasileiro tão famoso pelo mundo. É, à grosso modo, instigante.

Entretanto conforme se desenvolve, o roteiro não consegue exigir mais do telespectador. Embora saiba cumprir a sua proposta muito bem, a série acaba ficando presa a isso e não consegue ir muito além. A produção acerta na forma redonda com a qual estrutura as suas histórias, mas peca ao focar demais no processo, deixando o roteiro sem espaço para respirar e se desenvolver.

A ausência quase total de subtramas, prejudica o desenvolvimento de personagens da série, que ficam presos a flashbacks curtíssimos para ganhar profundidade. Isso limita a estrutura narrativa de forma amarga, exigindo deixar passar mais buracos do que é saudável exigir, pois algumas coisas como o romance de Michele e Fernando tem o desenvolvimento raso e dão ao telespectador a ideia de que perderam algo.

No entanto, o roteiro que tanto fala sobre méritos, é cheio deles. O andamento da história tem dinamismo e fluência maravilhosos, que impedem o racionamento dos episódios e fazem da série uma ótima candidata a maratonas. Aliando isso ao fato de que o seriado tem uma progressão capitular bem formulada - nenhum personagem é deixado no mesmo "lugar" que estava no começo do episódio - fazem de 3% uma grande candidata a queridinha do público.

A fotografia está espetacular. Embora o uso de planos gerais que explorassem um pouco mais das incríveis locações tenham faltado, a subjetividade foi bastante bem explorada aqui. Câmeras tremidas e closes souberam passar bem a urgência que o roteiro precisa revelar, bem como, o angulamento torto em algumas cenas mais carregadas, revelam um mundo de personagens quebrados.

As atuações são bastante críveis, mesmo que Bia Comparato falhe em carregar o drama da sua personagem quando exigida. O destaque da categoria fica por conta de Mel Fronkowiack, de longe a melhor, chamando todas as atenções para a sua personagem quando aparece.

No fim, 3% é uma boa série. Com erros a serem consertados, mas uma boa série. A perceptível e quase inocente vontade de inovar encontra nas críticas do roteiro e humor pontual na relação entre os personagens, uma aliada precisa. Uma boa pedida para o fim de semana.


 BOM


Confira o trailer da série:

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