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Animais Fantásticos e Onde Habitam - Crítica


Saudações escapistas do meu Brasil!
Para mim, ficar sem Harry Potter foi um golpe muito difícil. Como toda boa criança dos anos 2000, eu cresci lendo e assistindo à saga. Parece até que foi ontem que acompanhei a estreia televisiva de Pedra Filosofal no SBT, quando tinha 11 anos e acreditei piamente que a coincidência da minha idade com a de Harry significava que eu também era um bruxo. Hoje, adulto, eu tinha certeza que voltaria a ter 11 anos e ver magia em tudo no novo Spin-off baseado no mundo de Harry Potter, Animais Fantásticos e Onde Habitam. Nem precisava, visto que JK Rowling tem a plena consciência de que o seu público cresceu e mostra isso em sua nova obra. 

Sinopse: Newt Scamander (Eddie Redmayne) é um excêntrico magizoologista que chega à cidade de Nova York levando com muito zelo uma maleta onde ele carrega animais do mundo da magia que coletou durante as suas viagens e estudos. Em meio a comunidade bruxa norte-americana, que teme muito mais a exposição aos trouxas do que seus colegas ingleses, Newt precisará usar todas suas habilidades e conhecimentos para capturar uma variedade de criaturas que acabam fugindo por acidente.

Em sua estreia como roteirista, a autora J.K. Rowling tinha em mãos uma missão ingrata: apresentar algo realmente novo e agradar aos fãs antigos. É um caminho amargo o qual a autora não precisava trilhar, mas é exatamente nesse quesito que ela brilha, mostrando o quão diferente de Harry Potter  a nova série pretende ser.

Animais Fantásticos e Onde Habitam possui um texto pesado e tem mais vontade de desenvolver personagens e expandir o universo mágico apresentado em Harry Potter do que contar mais uma história sobre mocinhos e vilões. E a forma como J.K Rowling constrói seus personagens com cuidado é uma das melhores coisas do filme. Os personagens tem suas personalidades, ambições e camadas definidas de forma rápida e eficiente, embora falte um tratamento mais cuidadoso na construção da ameaça Grindewald, deixada como cliffhanger - aquele velho erro comum a todo começo de saga.

A construção de trama é eficiente. Com duas tramas subpostas, a direção de David Yates é versátil e dá uma sutileza quase poética à alteração entre as duas, conseguindo não confundir o público na dança entre tons. As cenas de Newt Scamander com os seus animais tem uma beleza tocante, assim como as participações do Obscurus são bastante sombrias e dão um tom mais adulto ao universo mágico de J.K Rowling. Mostrando que sim, ela sabe que o seu público cresceu.

O desafio de carregar a alteração entre esses ares sombrios e relaxados de forma proporcional é também da direção de arte, que opta por cores mais saturadas em pastel e tons mais escuros, carregando bastante bem a proposta pintada pelo roteiro e passando a ideia de um mundo mágico amedrontado e desgastado.

E por falar em roteiro, Rowling estreou bem. Embora desenvolva-se - e faltou uma direção de mão mais pesada aqui - de forma um tanto arrastada, o roteiro é crível e consegue transparecer, bem medido e bem pesado, sua mensagem.

No fim, Animais Fantásticos é Onde Habitam é um filme que luta de forma justa para se balancear entre o novo e o nostálgico, sabendo bem carregar suas contradições. Vendido como uma comédia, o filme é lotado de críticas nada sutis ao estilo de vida americano e ao fanatismo religioso, fazendo uma ponte fascinante entre a magia e o mundo real.


NOTA:
ÓTIMO





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