Pular para o conteúdo principal

Moonlight - Crítica




Saudações escapistas do meu Brasil.
Alguns filmes são injustiçados pelo mercado cinematográfico. Infelizmente, é comum que em meio a tantos blockbusters, o lado mais artístico passe despercebido do público. Mas toda temporada de premiações traz a luz gratas surpresas que são assistidas e celebradas como merecem. E esse foi o meu caso com Moonlight, eu lamento informar. Eu sequer sabia da existência dessa obra prima que saiu nos EUA no fim de outubro e só agora chegou aos cinemas brasileiros, até ver os indicados ao globo de ouro. No entanto, como eu disse, essa temporada sempre traz gratas surpresas. Moonlight com certeza é uma delas.

Sinopse: Moonlight narra a vida de um jovem, desde a infância até a vida adulta e a luta dele para encontrar seu lugar no mundo enquanto cresce num bairro violento de Miami.


Eu passei muito tempo sem saber direito como começar essa crítica, de tão tocante que esse filme é, até perceber que isso era apenas mais um dos muitos méritos da obra. Moonlight é um daqueles filmes no qual a ausência de palavras, diz mais do que a fala em si. O personagem Chiron, por exemplo, é cheio desses diálogos silenciosos em que a poética flui, totalmente aberta a interpretação do telespectador. 

Vemos isso muito bem no "Quem é você, Chiron?" questionado por um personagem de Moonlight ao seu protagonista. A pergunta, embora não seja feita no começo do filme, perdura durante toda a sua exibição e é uma das características mais marcantes do roteiro, em suas ausências. Nem ele mesmo sabe quem é, embora as pessoas passem o filme inteiro o definindo. É instigante, para dizer no mínimo, a pesada proposta de auto conhecimento e solidão do filme.

O roteiro consegue carregar essa ideia muito bem através do crescimento - literal e figurado - do personagem. Com a vantagem de ser simples nessas propostas, mas extremamente complexo na forma de desenvolvê-las. Multifacetado, sem ser exagerado, Moonlight se desenvolve de forma simplista e expositiva. Sem jogar informações demais na cara do telespectador, ao tempo em que não duvida de sua inteligência. 

Não é simples, tampouco fácil fazer os questionamentos e discussões que Moonlight propõe. Há um personagem negro, pobre e gay que se choca a todo momento com a realidade onde vive mas que não sabe muito bem como lidar com isso além de seguir em frente. A jornada de Chiron entre garoto e homem recebe poucos questionamentos além daqueles impostos a ele e isso só faz com que os conflitos que implodem a todo momento no filme tenham uma carga dramática bem mais pesada.

As excelentes atuações que esse filme entrega só aumentam e agem como um potente condutor a essa carga. Sejam em nomes mais conhecidos, como os personagens coadjuvantes de Naomie Harris (que dá uma aula de atuação) e Mahershala Ali (que levou um globo de ouro pelo filme) ou em Trevante Rhodes, Ashton Sanders e Alex R. Hibbert.

A direção de Barry Jenkins é simplesmente incrível. Sua fórmula, embora longe de inédita discorre de forma tão sútil e adorável que a crítica mais comum de quem não gostou do filme é que em Moonlight nada acontece.

Poeticamente dosado, Moonlight é um Pulp Fiction de um personagem só. Barry Jenkins consegue algo extraordinário ao trabalhar a evolução de facetas e personalidades com sutileza e delicadeza. Não há outra forma de descrever: Moonlight não é só o filme que se quer ver, mas o que se precisa assistir. É drama em sua melhor forma.

Nota:

SELO GAIOLA DE OURO DE MARAVILHA

   

   Confira o trailer do filme:    

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

La La Land - Crítica

Saudações Escapistas do meu Brasil! Eu tenho uma queda por musicais. Contar uma história usando a música como elemento me fascina de uma maneira que não consigo explicar. Acho que basta dizer que três, dos meus cinco filmes favoritos, são musicais. Acredito que o gênero tem uma maneira muito peculiar de desenvolver suas narrativas, fascinando e deslumbrando o telespectador a todo momento, o que acaba exigindo muito daqueles que o fazem. De diretor, a ator. Por isso, foi com muita alegria que recebi a ideia de La La Land - Cantando as estações, antes mesmo do filme ganhar (07) mais globos de ouro (SETE) do que qualquer outro filme (Seven) na história da premiação (siete). Sinopse: Ao chegar em Los Angeles o pianista de jazz Sebastian (Ryan Gosling) conhece a atriz iniciante Mia (Emma Stone) e os dois se apaixonam perdidamente. Em busca de oportunidades para suas carreiras na competitiva cidade, os jovens tentam fazer o relacionamento amoroso dar certo enquanto perseguem fama

Descobertas da Semana #1

Saudações escapistas do meu Brasil! Uma semana acaba sendo muito tempo para alguém viciado em conteúdo de entretenimento, não é? A gente tenta - e falha lindamente - colocar as séries e a leitura em dia, ir assistir nos cinemas a estreia daquele filminho tão esperado e encontrar uma banda bem legal na internet para ouvir enquanto procrastinamos. Pensando nisso, resolvi criar essa série para postar aqui, não necessariamente semanalmente, pequenas indicações em cada seguimento do blog - séries, livros, música e filmes - do que eu for descobrindo por esse mundão aí à fora. Brace yourselves, post grande à frente . Série Bojack the Horseman - Netflix Considerando a quantidade de memes e citações que circulam sobre essa série na internet, o fato de que eu finalmente criei vergonha e assisti não exatamente classifica como uma descoberta, não é mesmo? No entanto, precisamos falar sobre BoJack. Precisamos . Sério. Muito . Criada pelo novato Raphael Bob-Waksberg, BoJack

Aleatoriedades Aleatórias: Amizades também podem ser abusivas

Saudações Escapistas do meu Brasil! Em algum lugar entre o Lakka com Oreo e a Netflix, fazer amizades está no Top cinco de melhores coisas do mundo. A vida social é uma grande parte da rotina de qualquer pessoa. Mesmo quem se isola do mundo para ver séries como eu, não consegue evitar se meter no meio de algum grupo e acabar conectando-se com alguém. Entretanto, o ser humano consegue estragar até as melhores coisas e algumas amizades acabam virando verdadeiros jogos de poder, tornando-se um relacionamento abusivo. Os relacionamentos abusivos são qualquer relação onde um mantenha controle sobre o outro, abusando-o moralmente. As pessoas geralmente só enxergam esse tipo de situação em casais nos quais um agride ao outro, mas a violência que a vitima de uma relação abusiva sofre vai além do físico, não significando necessariamente que quem não apanha não sofre; Os abusos também se dão por meio de ofensas, pressão psicológica, intimidação e ameaças verbais.  Qualquer